Fiquei chocado semana passada ao ler, em plena Zero Hora, um texto bem escrito sobre Porto Alegre e seus dilemas, em especial o problema da proliferação de carros. Não era um texto sobre o problema carro em si, mas levava este assunto que vem sendo tão debatido na mídia pensante que me surpreendi de vê-lo debatido no mainstream.
Hoje, em compensação, vejo um texto do Jornalista Humberto Trezzi "contra-argumentando" a questão. E é neste momento que fico triste e reforço minha visão que a profissão de jornalista não faz mais sentido no Brasil.
Leia aqui o artigo da Zero Hora.
Não, meu problema não é que ele defende o uso de carros - adoro que refutem meu ponto de vista! O problema é os seus argumentos, ou ainda, a total ausência deles! Espere, minto, ele diz que a criação da Beira-Rio possibilitou o uso da orla. Ah, sim, claro, antes não havia como chegar a orla sem cruzar um matagal, depois havia um acesso. Nossa, o douto jornalista descobriu a roda!
Não há ludismo nos defensores da redução do uso de carros, como o jornalista argumenta. Ninguém está querendo proibir o seu uso, mas sim restringir para quando ele realmente faz sentido. Ou seja, buscar uma racionalização. É como acusar alguém de ludista ao criticar um amigo que fica fuçando no celular em uma festa divertida. O problema não é a tecnologia!
A ampliação de avenidas vem sendo amplamente discutida, não por raiva aos carros, mas porque muitos estudos mostram que ela simplesmente não funciona! [1] Mais, porque ela mostra uma rota de investimentos insustentável assumida pelos governos em todos os níveis. Estamos subsidiando amplamente o uso de carros particulares como meio de transporte nas cidades.
"Subsídio? Como assim?!" Bem, quanto um usuário de carro paga pelos seguintes serviços:
1. Estacionamento nas ruas da cidade?
2. Estacionamento em supermercados?
3. Sobre uso das ruas para tráfego?
4. Custo ambiental pela emissão extra de CO2?
5. Impactos à saúde causados pela emissão de poluentes via queima de combustível ou atrito de pneus?
Na verdade, todos estes custos acabam embutidos quando pagamos pelos nossos serviços. Um estacionamento, por exemplo, sempre tem um custo associado, pois aquela área poderia estar sendo usada para outra coisa (ou, no mínimo, por IPTU). O Zaffari, por exemplo, poderia colocar mais lojas ou ampliar o supermercado. Assim, eu ajudo a pagar a conta de quem vai de carro no Zaffari.
O uso das pistas de rolagem é igualmente absurdo. Em muitas avenidas temos ainda ônibus concorrendo com carros particulares. Antes de pensarmos em qualquer ampliação de pistas, deveríamos garantir que em cada rua que um ônibus circula (ou ao menos nas principais) haja uma pista dedicada para ele. Um contra argumento é que isto geraria ociosidade da pista. Será?! Se considerarmos a densidade de passageiros de um ônibus, me parece que, ao contrário, estaríamos aumentando a sua eficiência! Ainda mais perverso é vermos uma ambulância presa no congestionamento!
Mais uma vez, não se fala aqui em acabar com os carros, mas racionalizar o seu uso e acabar com os subsídios. Enquanto eles existirem, a concorrência entre carro e transporte público será desleal! E o próprio custo do transporte público ficará mais alto, devido a congestionamentos e subutilização do sistema.
Fontes:
[1] http://vadebici.wordpress.com/2013/02/16/por-que-a-construcao-de-mais-ruas-nao-alivia-os-congestionamentos/
O TRAMWAY como transporte publico de qualidade.
ResponderExcluirPara uma metrópole cada vez mais vertical, não existe outra saída que um transporte publico de qualidade. Os nossos administradores e políticos parecem pouco observar as iniciativas qualificadas de transporte público que vem acontecendo pelo mundo. De todas elas, o maior sucesso tem sido o Tramway ou Tram (espécie de bonde elétrico moderno), que já foi implantado em mais de 20 cidades francesas. Inclusive em Paris, ultimamente tem optado pela implantação de Trams em vez de continuar ampliando as linhas de metro. Na cidade de Bordeaux, em 1997, um plebiscito foi favorável à implantação do Tram em vez de implantar linhas de metro. A primeira consequência imediata da implantação do Tram em Bordeaux foi a redução em mais de 50% da circulação de carros pela cidade. Nas zonas centrais das cidades, os modernos trams podem se mover usando energia elétrica acumulada em baterias, como no Tram de Nice. O Tram se mostra hoje como o transporte urbano mais qualificado, podemos passar em pistas exclusivas, em espaços gramados ou mesmo em espaços compartilhados com pedestres como nas zonas centrais de diversas cidades francesas.
Porto Alegre, poderia rapidamente implantar trams nos atuais corredores de ônibus e em outros espaços alternativos, mas o que vemos é a implantação apenas de ônibus, como os chamados BrTs que são soluções ultrapassadas. E não vemos nem administradores, nem políticos, nem a imprensa falar em alternativas qualificadas como o Tram.
O tram é uma boa solução, mas é importante frisar, o Fortunati já falou sobre VLTs! Segundo ele "Chegamos a estudar o sistema de VLTs (veículos leves sobre trilhos), mas chegamos à conclusão de que o sistema criaria obstáculos ao trânsito."
ExcluirParece piada, mas é sério!
Fonte: http://noticias.band.uol.com.br/eleicoes2012/porto-alegre/noticia/?id=100000512618
Esse problema do trânsito vai continuar sem solução, infelizmente, por muito tempo.
ResponderExcluirPanato, falando sério, tu te sente ou sentiria seguro andando de bicicleta nesse trânsito de Porto Alegre? E se, por mágica, as pessoas resolvessem andar de transporte público e deixassem seus automóveis em casa, tu te sentirias seguro em compartilhar o mesmo espaço com motoristas de ônibus com mau humor e totalmente despreparados no trato com seus semelhantes no dia a dia? Acho que não... Sinceramente, esses argumentos são legais, mas eu não estou disposto a deixar meu carro em casa e trocar meus 30 minutos de deslocamento com ele e seu ar condicionado e trocar por 1h30 de deslocamento, em dois ônibus, em pé, na maioria das vezes. Quem sabe em uma próxima vida.
Primeiro, é importante frisar que não mencionei bicicleta no texto. Quando muito, falei sobre transporte público.
ExcluirAinda assim, como me solicitaste, seguem minhas respostas:
1. Sim, eu me sinto seguro e ando de bicicleta pela cidade. Ando, muitas vezes, mais de 10km após sair da casa de amigos de noite até a minha casa. Não acho, entretanto, que a bicicleta seja solução para a mobilidade - embora seja um modal importante. Não há uma bala de prata, mas o transporte público e, principalmente, uma politica de zoneamento são as melhores forma de abordar o problema.
2. Hoje vivemos em um equilíbrio de Nash não ótimo. Tu só levas 1h30min (supondo teus número corretos) para se locomover de ônibus, pois temos congestionamento causado pelo excesso de carros. Tu afirmas que de carro levas 30 minutos. É possível que, se um número significativo de pessoas deixassem seu carro em casa, o tempo de transporte de ônibus baixaria para 25 minutos. Claro, aí tu poderias dizer que preferiria ir de carro, pois levaria 15 minutos. Aí que entra o problema do equilíbrio de Nash. Enquanto é permitido as pessoas tomar decisões egoístas, o sistema converge para um ponto não ótimo.
3. A melhor forma de acabar com isto é através de gestão de incentivos. Para tanto, precisamos trabalhar no fim do subsídio aos carros e criação de subsídios ao transporte coletivo. Hoje vivemos um cenário exatamente oposto. Com os custos apropriadamente configurados, uma transformação poderá acontecer. Mais sobre isto em futuras postagens.
Eu pedalo todos dias até o trabalho de bicicleta. Fez muito bem para minha saúde, perdi peso e minha pressão baixou. A educação dos motoristas precisa melhorar e muito sim, acho que isso deve ser atacado e não aceito como normal.
ExcluirO autor, na minha opinião comete o erro de achar que a única maneira de levar as pessoas para a orla é através de mais carros. Por que não implementam ali um bonde ou aeromóvel? A duplicação da avenida beira-rio não terá uma única linha de transporte de massa. E sem vagas de estacionamento (ou seja, tirar mais área dos parques) os automóveis só usarão as pistas para voar até em casa.
ResponderExcluirMas o erro gravíssimo dele é assumir que um ciclista está "atrapalhando o trânsito na hora do rush". Como assim? Eu vou para o trabalho de bicicleta e eu tenho tanto direito quanto os automóveis de usar as vias, está no código de trânsito. Desde quando os automóveis são donos da rua? Ele diz que é a favor do pedal mas me passou a impressão que é mais um que acha que bicicleta é lazer, e que é preciso levá-la para algum lugar de carro para então usá-la.
Em relação ao custo dos estacionamentos, ele é embutido em absolutamente tudo. Hoje em dia, 30% de uma cidade como São Paulo é direcionado para estacionamentos. Não tenho números de POA, mas duvido que seja muito menos. Alguém duvida que isso impacta no valor altíssimo do metro quadrado de um apartamento, e eles estão cada vez menores?
Acredito que ele estava reclamando de manifestações na hora do Rush, como a Massa Crítica faz de vez em quando.
ExcluirSobre os 30%, é importante fazer um adendo. Este número refere-se a área construída em um dado ano na cidade e foi o pico. Hoje está em torno de 25%. Contudo, se considerarmos os espaços disponíveis em postas de rolagem o número salta enormemente!
Não sabia disso, mas 25% ainda me parece muito.
ExcluirEm relação ao horário do rush, se era isso não deixou claro. Se for, é aquela velha historia de querer que uma manifestação não perturbe ninguém, sequer faz sentido.