sexta-feira, 29 de março de 2013

Protestos em Porto Alegre

Ontem ocorreu o maior protesto contra o aumento de passagens de ônibus em Porto Alegre das últimas décadas. Talvez o maior protesto de qualquer natureza. Mesmo tendo causas justíssimas, ele descambou para a violência. Eu mantenho minha posição, já manifestada no Tatugate, que quando os manifestantes partem para a violência perdem a discussão, mesmo que seus argumentos sejam válidos.

Prefeitura depredada, ônibus pichados, Buzatto todo cheio de tinta. desta confusão toda, que lições podemos tirar?

1. Estes Movimentos Estão Aí Para Ficar
Em todo o mundo, decisões duras (mesmo as necessárias!) causam revolta popular. No Brasil, mesmo decisões absurdas ficavam sem protestos. de ruas. Podem reclamar por aí que a eleição do Renan Calheiros teve poucos protestos, mas posse dele teve poucas consequências práticas. Já a posse do Marco Feliciano, com efeitos práticos muito claros, está gerando efeitos diários! Assim, esqueça a hipocrisia de grandes valores morais. O povo não é o nosso bastião da moralidade, mas sim um grupo de interesse que irá se mobilizar quando o seu estiver na reta.
Ainda assim, estes movimentos são importantes. embora a violência seja deplorável - e, mais uma vez, acho que quem fez uso dela deve ser responsabilizado criminalmente -, mesmo com ela estes movimentos cumprem um papel interessante: fazem o governo ter medo das decisões que estão para tomar. E ter medo - espero - os fará começar a pensar, um hábito muito saudável ignorado por nossos administradores.

2. Acontabilidade dos Nossos Governantes
O fato de se sentirem vigiados de perto é bom. O transtorno causado, a repercussão nacional, tudo isto implica, no mínimo, nas ambições políticas dos envolvidos. Quem sabe até um desconforto no seu dia a dia, sabendo que tem gente reclamando.
Assim, o governo terá duas opções: ou parte para a guerra, ignorando os protestos, ou tenta estabelecer um diálogo antes de agir.
Nenhuma das opções é trivial: a guerra implica em identificar que o grupo que protesta é apenas uma minoria barulhenta. Mais, um grupo que irá causar transtornos. E linha dura muitas vezes não é bem comprada pela população, assim, será necessário expor claramente suas ideais para o restante da população para que as comprem e apoiem. Partir para o diálogo também é complicado, pois muitos grupos não querem dialogar. Mais, identificar os grupos de interesse e realizar uma comunicação que os atinja e informe não é simples. Envolverá uma reformulação dos mecanismos de comunicação da prefeitura que, é importante dizer, não são ruins (muito melhores que do governo do estado, por exemplo).

3. Como Impedir Protestos Violentos
Aqui, preciso dizer, parte da culpa é minha. Não, não estou brincando. A culpa também é de muitas pessoas que estão lendo este texto!
No mês passado, quando do evento do corte das árvores no Gasômetro, fui em um encontro de grupos contrários. Lá existia pessoas organizadas e com um pensamento bem estruturado, mas também tinha a turma do contra - aqueles que não sabem muito bem porque, mas são contra (ou a favor) de algo. Estes que não querem discutir ou aceitar compromissos; e parte deste grupo que irá para a briga.
No caso das passagens, o Buzatto supostamente tentou conversar com o grupo. Honestamente, não sei o que eles teriam a dizer um para o outro, mas eu si o que EU teria para dizer. Sei de muitas dúvidas, críticas e propostas de melhoria que muitos têm, mas este pessoal não faz protestos. Ficamos calado.
Poderíamos pedir detalhes sobre a reforma das linhas pra o BRT, redução do número de cobradores, proibição da circulação de linhas metropolitanas nos corredores de ônibus e no centro da cidade, investimento em outros modais, criação de um corredor de ônibus na Ipiranga (e em todas as principais vias da cidade), entre muitas outras coisas. Ideias que a prefeitura parece não ter a capacidade de ter, a mídia acéfala não se dá ao trabalho de perguntar e os manifestantes habituais não se preocupam, pois esperam soluções mágicas.

Enquanto nós, que acreditamos ter boas ideias para esta cidade, não formos capazes de nos organizar, nós somos co-responsáveis pela balbúrdia. Enquanto nos afastarmos, o diálogo só tem a perder.


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