quarta-feira, 10 de abril de 2013

Uma Proposta para o Transporte Público

Na última semana, publiquei uma série de artigos sobre o sistema de transporte público de Porto Alegre. Os artigos abordaram:

  • Iniciando o DiálogoIntrodução ao conjunto de indicadores e vocabulário usado pela EPTC e o básico do cálculo da tarifa. 
  • Mais Sobre Custos: Análise detalhada de como funciona o sistema de cálculo de custo das tarifas. 
  • Receitas e DemandasComo está a situação da arrecadação do sistema de transporte. Como está se comportando a demanda dos passageiros. 
  • Por que as Passagens Sobem?Análise dos motivos por trás do aumento das passagens e comparação com outras cidades. 
  • Me dê Números!: Como usar todos estes conceitos para simular cenários. Disponibilizo uma planilha que permite calcular o valor da passagem simplesmente informando parâmetros para diversos cenários. 


No último artigo publicado, convidei os leitores a criarem suas propostas, simularem e postarem no blog. Hoje, publico a minha proposta para o problema de hoje, onde queremos chegar e como chegar.

Em resumo, a proposta prevê ações se estendendo por três anos, reduzindo o valor da passagem (excluindo inflação), respectivamente, para R$2,35, R$1,50 e R$1,35. Estas ações envolvem alterações na eficiência e qualidade do sistema.

Update: Descobri um erro na minha planilha de cálculo de tarifas de ônibus, já corrigido. Comento este arro aqui. Em função disto, os dados apresentados neste texto estão errados. Os valores corretos para os anos 1, 2 e 3 são, respectivamente, R$ 2,20, R$ 1,70 e R$ 1,65. Embora os valores sejam maiores, acredito que o resultado ainda é suficientemente positivo para justificar estas ações.


Premissas

Conforme descrito em Porque as Passagens Sobem?, o principal problema enfrentado hoje é a queda do número de passageiros. Esta queda possua vários fatores, mas minha percepção é que dois deles são esmagadoramente mais importantes: custo das passagens e qualidade do serviço.

Parece loucura dizer que um dos principais motivos para o aumento das passagens é seu alto preço, mas isto é infelizmente uma verdade. Entramos em um círculo vicioso, onde um aumento do preço da passagem desmotiva os usuários a usar o sistema, diminuindo a arrecadação e forçando um novo aumento de passagens.

Uma das ideias desta proposta é quebrar este círculo vicioso, criando um círculo virtuoso. A premissa é que, se a passagem baixar, mais pessoas usarão o sistema e, por conseguinte, o preço poderá baixar. E assim sucessivamente! Acredito, entretanto, que este efeito só pode ocorrer se a redução de preço for significativa, de modo a criar um efeito psicológico forte o suficiente.

Para atingir esta premissa, temos que atuar nas outras variáveis do sistema. Infelizmente, os outros itens tradicionais não reduzem suficientemente o custo do sistema de uma forma duradoura. Assim, é proposto aqui um choque temporário no sistema, através de uma ação da prefeitura, para reverter a situação atual.

A ação da prefeitura também deve ser feita no quesito qualidade. Um conjunto de ações rápidas e baratas deve ser realizado para revitalizar este modal.

Qualidade

Há diversos aspectos que influenciam na qualidade do serviço, como carros operando com ar-condicionado, acessibilidade, baixa lotação, entre outros. Operar sobre estes itens constitui uma medida de longo prazo e, portanto, não será discutida aqui.

O aspecto mais importante, sob o meu ponto de vista, é garantir um baixo tempo de deslocamento e uma previsibilidade de horário para as diversas linhas. Estes indicadores tem sido, entretanto, amplamente prejudicados por congestionamentos. Assim, proponho duas ações para reduzir este impacto:

Linhas Interurbanas

Parte significativa dos ônibus circulando nos principais corredores da cidade, notadamente na Assis Brasil, são ônibus intermunicipais. Esta operação causa amplos congestionamentos nos corredores, além de demandar uma área significativa de circulação e estacionamento no centro da cidade.

Estes ônibus não agregam em nada a qualidade dos moradores da cidade, enquanto consumem recursos importantes. Ainda pior, estes ônibus normalmente são de pior qualidade, causando mais poluição atmosférica e sonora, além de serem dirigidos de forma mais perigosa.

Assim, a primeira medida deve ser a proibição de circulação destes ônibus nos corredores de ônibus. Mais, eles devem operar levando seus passageiros até as bordas da cidade, desembarcando seus passageiros em terminais abastecedores, como o terminal Triângulo. De lá estes passageiros devem pegar ônibus urbanos convencionais.

Esta ação, além de reduzir significativamente o número de ônibus circulando na cidade, trás um segundo benefício. Estes passageiros, que hoje não fazem uso do sistema de transporte urbano, passarão a fazer uso deste, aumentando a eficiência do sistema. Com IPKs maiores, a passagem pode ser reduzida.

Corredores Semi-Exclusivos

Os congestionamentos na cidade aumentaram significativamente, devido o aumento do número de carros em circulação. Desta forma, a circulação de lotações e ônibus foi diretamente prejudicada. Para solucionar este problema, proponho um aumento no número de corredores.

Ao falar em corredores, tratam-se de corredores de pista compartilhada com lotações. O desembarque é feito em paradas, semelhante ao existente na avenida independência. Este tipo de corredor é muito barato e de rápida implantação, pois envolve apenas sinalização na pista, placas e, quando muito, tachões. Não é necessário rever a pavimentação.

Esta ações deveriam ser iniciadas imediatamente. Algumas avenidas que deveriam sofrer esta alteração:

  • Urgente:
    • Ipiranga;
    • Independência/ Mostardeiro (sentido centro-bairro);
  • Prioritário:
    • 24 de Outubro/Plínio Brasil Milano;
    • Eudoro Berlink;
    • Padre Cacique;
    • Azenha;
  • Média Prioridade:
    • Goethe;
    • Nilo Peçanha;
    • José de Alencar;
    • Loureiro da Silva;
    • José do Patrocínio;
    • Presidente João Goulart (em frente ao Gasômetro).
Naturalmente devem haver outras ruas que eu não esteja levando em consideração que devem ser tratadas, assim, esta lista é um ponto de partida. No caso da Independência, por exemplo, o tempo de deslocamento ao longo de sua extensão, em horário de pico, está em torno de 30 a 40 minutos (a pé faço em 15 a 20 minutos).

Com estas ações, o tempo de deslocamento de ônibus será, em alguns trechos, menor de ônibus do que de caro, valorizando este modal. Além disto, milhar e de pessoas que circulam de ônibus nesta via passariam a ganhar 30 minutos a mais em seus dias.

Rodagem

Hoje temos 400 linhas de ônibus no nosso sistema. Este número é irreal e tem crescido nos últimos anos, mesmo com o número de passageiros caindo e o tamanho da cidade inalterado. Por exemplo, temos hoje 6 linhas com saída do Centro e chegada no Lami. estas ineficiência impactam o IPK do sistema.

Precisamos diminuir o número de linhas e reduzir o trajeto médio dos ônibus. Isto deve ser feito fundindo linhas, separando linhas e excluindo linhas ineficientes. O objetivo é garantir que os ônibus permaneçam lotados a maior parte do tempo. Este é um estudo complexo, mas medidas rápidas e óbvias podem ser tomadas.

Fusão de Linhas

Temos hoje trechos tronco, que alimentam grandes terminais, não operados por uma linha única. Assim, por exemplo, temos a linha 520 (Triângulo-Assis Brasil) operando do terminal Triângulo até o hospital Fêmina. Por outro lado, temos a linha 510 (Auxiliadora) operando entre o Zaffari Higienópolis e o Centro. A linha 510 opera vazia no seu início (Higienópolis) e a pleno no meio e fim (Auxiliadora até o Centro). Já a linha 520 opera vazia no seu final (Fêmina) e a pleno no início (Triângulo) e meio (Auxiliadora).

Estas linhas deveriam ser a mesma linha, operando do Triângulo até o Centro. Assim, os pontos vazios seriam operados a pleno. Haveria um ponto de estrangulamento no meio da linha, mas ele seria administrável com mais carros nos momentos de pico (que são uma fração pequena da operação).

Separação de Linhas

Temos hoje linhas que possuem uma ampla demanda em um ponto, mas são vazias em outros. Isto ocorre, em laga medida, pois esta linha operam em parte de um eixo tronco. Assim, por exemplo, temos diversos ônibus que fazem o mesmo trajeto da do Centro até a o Terminal Triângulo. 

Estas linhas deveriam dar lugar a uma única linha, operando a plena eficiência entre estes dois pontos. Do Terminal Triângulo estas linhas se dividiriam em outras para seus pontos finais. Como a segunda passagem é gratuita, os usuários não seria prejudicados financeiramente. Linhas que fazem caminhos distintos entre estes dois pontos poderiam ser poupadas.

Exclusão de Linhas

Embora a EPTC não divulgue estes dados, é fácil de observar que temos linhas que operam majoritariamente vazias ao longo de todo o trajeto. Ou, em outros casos, possuem um trajeto muito grande, tornando-se ineficientes, salvo transportem uma quantidade alta de passageiros.

Fala-se de idosos e estudantes, mas este também é um subsídio. As linhas mais eficientes transferem receita para estas linhas. A solução é verificar a efetiva necessidade de cada uma destas linhas. Para linhas necessárias, mas que se destinam a locais isolados (como o Lami), o número de viagens devem ser reduzidos, até que o IPK seja condizente. Esta é uma medida dura, mas corrige o problema de espalhamento da cidade que criamos ao longo das últimas décadas.

A Proposta

A proposta final envolve os itens citados acima. De forma concreta, entretanto, acredito que devemos trabalhar com metas por ano. Assim, minha proposta envolve uma ação em três anos. São elas:

Ano 1 (2013)

Primeiramente, o sistema de transporte público gera benefícios para a cidade. Assim, a  prefeitura e a EPTC deveriam desonerar o sistema com os tributos que cobram. Assim, propõe-se terminar a cobrança do ISSQN eu da Taxa de Administração. Além disso, para garantir um efeito inicial, a prefeitura entraria no sistema com um subsídio de R$50 milhões, de modo a transformar o círculo vicioso em um círculo virtuoso.

Como contra partida, a sociedade aceitaria o fim da categoria isentos. Ela passaria a ser cobrada em 50%, como são os estudantes. A redução de 50% está em conformidade com outros descontos  que idosos (a maior parte desta categoria) já possuem hoje em outros serviços. É estimado, para fins de modelo, uma taxa de conversão de 50%.

No que tange as ações de qualidade, é proposto, para o primeiro semestre, a implantação dos corredores classificados como urgentes. Para o segundo semestre, a implantação dos corredores prioritários. 

Na categoria rodagem, um conjunto dos três tipos de ações terá por meta reduzir o valor da rodagem para 95%  de 2011 (considero uma meta conservadora). Como consequência destas ações, estima-se um aumento linear da utilização do sistema para 105%. Acredito ser este, igualmente, um valor conservador.

Dado estes parâmetros, obtermos uma tarifa calculada de R$2,02 e uma tarifa decretada de R$2,00. Importante notar que o modelo de dados que temos à disposição cobre a tarifa de R$2,85, logo, não estou considerando aqui quaisquer outras alterações no sistema de custos ou inflação no período.

Ano 2 (2014)

Em um ano, a prefeitura poderia exercer pressão na União para isenção de impostos federais incidentes na passagem de ônibus. É absurdo que tenhamos isenção de PIS/COFINS para celulares, mas não para o transporte coletivo. No que tange a subsídios, a contra-partida da prefeitura reduziria para R$20 milhões.

Igualmente, tendo um ano para preparação, é proposta a extinção dos cobradores. esta medida pode ter sido parcialmente realizada no ano anterior. Assim, é prevista uma redução para 0% no número de cobradores e 50% no de fiscais. A ideia é que o ingresso no ônibus se daria exclusivamente mediante cartão. Um cartão poderia ser comprado em qualquer loja, assim como ocorre hoje com cartões de telefone (celular e orelhões). A taxa de Administração retornaria aos 3% e seria revertida para os pontos de venda.

No ponto de qualidade, seriam implantados neste ano os corredores de média prioridade. A ações de rodagem, para este ano, teriam como meta atingir 90% da rodagem de 2011. Como consequência destas ações, estima-se um aumento linear da utilização do sistema para 110% (conservador). 

Dado estes parâmetros, obtermos uma tarifa calculada de R$1,49 e uma tarifa decretada de R$1,50. Lembrando mais uma vez, estes valores não consideram a inflação no período.

Ano 3 (2015)

Aqui haveria uma consolidação do sistema. A prefeitura poderia remover o subsídio do sistema, mas manter a isenção do ISSQN (seria definitiva devido aos benefícios gerais que ela cria).

A ações de rodagem, para este ano, teriam como meta atingir 85% da rodagem de 2011. Como consequência destas ações, estima-se um aumento linear da utilização do sistema para 115% (conservador). 

Dado estes parâmetros, obtermos uma tarifa calculada de R$1,35 e uma tarifa decretada de R$1,35. Lembrando mais uma vez, estes valores não consideram a inflação no período.

Conclusão

Estas ações seriam viabilizadas ou via uma licitação, ou via uma negociação com a ATP. No cenário de negociação com a ATP, há implícita uma aposta por parte das empresas de ônibus. O modelo funciona se apostarmos que a taxa de incremento do uso será a projetada. É uma aposta, pois assim como ela pode ser inferior (pouco provável) e a empresa perder dinheiro, também pode ser superior e a empresa ganhar dinheiro! Além disso, a pressão da licitação deveria ajudar nas negociações.

Note que aqui não foi previsto o efeito do BRT, que pode reduzir ainda mais as taxas de rodagem do sistema e, por conseguinte, aumentar o IPK. Ele não foi considerado, pois não está claro ainda como a prefeitura pretende explorar o sistema, nem se de fato ele será um BRT.

13 comentários:

  1. Uma ideia seria manter isenção para idosos por exemplo para horários entre 9:00 e 16:00. São horários de baixo movimento em que a presença de idosos não representa custo para o sistema. Fora destes horários, poderia pagar meia. E difícil estimar o efeito nos cálculos, acredito que baixo. Mas reduz muito o impacto político da redução da isenção.

    Outra medida de incentivo ao transporte público, mas difícil de modelar e estimar o impacto é a criação de passes mensais ilimitados, como existe em praticamente toda europa. Incentiva o usuário regular.

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    1. Anônimo, a presença de idosos por si só não aumenta o custo, mas sim o fato de não pagarem onera a arrecadação. Então, é independente o horário em que eles circulariam.

      Sobre os passes mensais ilimitados, eu tenho uma linha na planilha para simular isto. Optei por não colocar neste cenário, apesar de gostar muito desta abordagem.

      Te convido a montar teu cenário com eles e postar os resultados. Todas as ideias são muito bem vindas. Nenhuma proposta pode ser considerada séria se não permitir negociação de alguns pontos ou melhorias! ;-)

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  2. Quanto à Padre Cacique, coloquei um corredor na proposta, pois sei quando o BRT estará pronto de verdade. Se estiver, pronto, óbvio, o corredor está feito.
    Quanto a retirada dos isentos, não acho que seja impossível. Acho que se for apresentado de uma forma transparente é viável.

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  3. Caro Adriel.
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    Está muito boa a tua análise sobre o sistema de transporte rodoviário coletivo de Porto Alegre, porém (pena que sempre há um porém), como deixo implícito já no início, fazes uma análise correta porém limitada do que se poderia fazer utilizando sempre o mesmo MODAL, o ÔNIBUS.
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    Uma cidade do porte de Porto Alegre deveria contemplar vários modais, por exemplo falas no Lami, e em nenhum momento citas o transporte aquaviário. Lami, Belém, Guarujá e Ipanema poderiam ser beneficiados por um transporte aquaviário. E veja, além de inteligência, que não custa dinheiro, o investimento para um sistema aquaviário em Porto Alegre é mínimo, seriam as estações de embarque e a via já está pronta (com veículos especiais, não seria necessário nem dragagem).
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    Assim como o aquaviário, é possível ressuscitar uma linha sobre trilhos para os bairros mais distantes da cidade, se Vicente Monteggia, no início do século XX com recursos próprios levou uma linha ferroviária (o que hoje chamaríamos um VLT) até o extremo da zona sul, por que não tentarmos hoje em dia?
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    Esqueces também o uso de VLTs em substituição dos corredores, são bem menos poluentes em todos os sentidos e não dependem do preço do combustível (por sinal a tendência do preço da energia elétrica é declinante).
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    Poderíamos, por exemplo, tentar uma linha de metrô de superfície (enterrado em alguns cruzamentos) na Bento indo até Viamão, praticamente o custo de desapropriações seria mínimo e a resposta deste modal em termos de qualidade de transporte a médias distâncias é máximo.
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    Nem falei de aeromóvel e outros modais, mas ficarmos como a única solução o uso de ônibus, é uma total falta de criatividade e de capacidade de planejamento global

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  4. Rogério,
    Em primeiro lugar, só para deixar clara a autoria, o texto é meu! ;-)
    Sobre tuas críticas: o objetivo deste texto é analisar o problema com base nas ferramentas que havia elaborado do modal ônibus. Ela não se propõe a ser uma análise completa. Mais, é uma proposta de implantação rápida, motivo pelo qual o uso de modais que operam sobre trilhos não se ajustaria.

    Pretendo, em algum momento, fazer uma análise de vários modais distintos, incluindo aí VLT, metrô, etc. Como já enfatizei em outros textos, quero para com achismos e dar base matemáticas para fundamentar as opiniões. Justamente por isso, este trabalho se torna monstruoso, mas ainda quero chegar lá.

    Tentando me antecipar, mas aí fazendo a ressalva que não tenho um modelo para fundamentar minhas opiniões, segue algumas críticas a tua crítica:
    1. Não faz sentido operar sobre trilhos em locais de baixa densidade populacional. O Lami (e toda a zona extremo sul) não é rota para algum lugar, mas fim, o que torna a situação deles muito mais complicada. Colocar um trem para lá seria perda de recursos (assim como seria fazer um corredor de ônibus).
    2. Não tenho dados do transporte aquaviário, mas meu palpite é que, para este tipo de situação, ele é menos eficiente que o rodoviário. Ele faria sentido abrindo uma linha para Guaíba e outras cidades na margem oposta.
    3. Sim, em princípio, sou favorável ao VLT em substituição dos corredores de ônibus. Entretanto, não os utilizei pelos motivos já citados.

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    1. Em tempo: outro detalhe é o custo. Aqui não estamos gastando quase nada. Então, reforçando meu ponto anterior, esta é uma proposta de ação rápida para melhor um problema sério. uma vez implementada, podemos passar a analisar outras opções (ou trabalhar com elas em paralelo,mas já colhendo os frutos das ações rápidas).

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  5. Uma avaliação que deve ser ponderada, Alex: as linhas que se dirigem ao Lami possuem um IPK baixo em razão de terem uma extensão enorme e não embarcarem/desembarcarem passageiros no percurso, somente após a Restinga ou Belém Novo. Foi uma conquista daquela comunidade, que se desloca em uma linha alimentadora até um terminal no Lami, com viagem de 20, 25 minutos, e depois embarca em outro ônibus em direção ao centro, numa viagem que pode levar de 1h30 a 2h.

    Apesar de o IPK ser baixo, a lotação da linha em grande parte dos horários é constante, visto que aumentou a quantidade de moradores em condomínios e em áreas rurais naquela região. Como não existem agências bancárias, supermercados de médio/grande porte ou serviços básicos de saúde naquela região, não resta outra alternativa senão levá-los até estes serviços. E de uma forma que não seja injusta. Por esta razão que a tarifa de Porto Alegre é, desde meados dos anos 70, 80, única - os usuários de linhas como Auxiliadora, Triângulo, Menino Deus, custeiam a passagem daqueles que necessitam de transporte público e de estruturas sociais.

    Te convido a, assim como já fiz, conhecer essa realidade embarcando em uma linha alimentadora como a A99, que sai da Parada 21 do Pinheiro e percorre uma região rural entre o Pinheiro e o Lami, ou a A74, Canta Galo/Extrema, que atende localidades da região do Lami. Estas linhas são gratuitas, e aí verás que elas são fundamentais para a população que lá vive - que não é pequena.

    Um abraço e parabéns pela iniciativa de colocar na mesa o assunto com esse viés, de encontrar uma alternativa viável. Só teremos algo nesse sentido após licitação - até lá, o negócio é estudar...

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  6. RadioBagual,
    Sim, isto deve ser ponderado. Entretanto, não podemos ignorar o custo. Ao decidirmos como montar um sistema de transporte público, a relação custo vs abrangência é uma equação delicada. Embora a redução do número de linhas cause vítimas, o preço da passagem também o faz, impedindo que pessoas tenham acesso a serviços por simplesmente não conseguir pagar!

    Naturalmente esta é uma proposta rascunho, que, antes de ser implantada, precisa de muito mais detalhamento.

    O exemplo do Lami não implica só na eventual redução de número de viagens. Há um erro sistêmico no transporte de Porto Alegre. Deveríamos ter linhas troco que percorressem do Centro até bairros mais populosos distantes, como Ipanema e Restinga. De lá, ônibus sairiam para destinos finais, como Lami, Belém Velho, Lageado, etc. Isto reduz o impacto, pois a viagem passa de 38 km para "apenas" 15 km.

    Em tempo, o mesmo vale para as regiões Norte e Leste. Para a Centro não é necessário, pois ela já seria cruzada pelas linhas tronco.

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    1. Cai de maduro a ideia de reduzir a extensão das linhas até um pólo como Ipanema - há o projeto de um terminal de integração onde hoje se encontra o terminal do T11, próximo da Juca Batista. Até ali poderiam ir tranquilamente as linhas Lami, Belém, e de lá seguirem ao centro. Treze anos atrás, algo nesse sentido já havia sido projetado, para que neste 2013 estivesse em execução. Na Unisinos existe o caderno do Plano Diretor Setorial do Transporte Urbano, escaneado por mim e aqui disponível: https://docs.google.com/file/d/0Bz3dt8Hj5oKtYTBJdGcyeGNCTVE/edit?usp=sharing. Era coisa que já deveria estar feita, em funcionamento, e com impacto direto no valor de tarifa pago atualmente...

      O problema é que isto somente poderia ocorrer em um redesenho do sistema somado a uma licitação de novas linhas. Do jeito que hoje a coisa está montada, um pauzinho que se mexa é um convite para batalha judicial.

      No caso de localidades mais distantes, como o caso da Extrema e do Canta Galo, não há demanda para levar estas linhas até Ipanema. A demanda é muito local, para o colégio ou comércio próximos. Dali sim que poderia se avaliar de, a exemplo do que Floripa faz, dividir a linha em três, quatro modalidades, como por exemplo: Direto (do Lami ao centro), Rápida (do Lami até Ipanema em pontos determinados) e Convencional (do Lami até Azenha, com paradas normais).

      A zona extremo sul é muito delicada nesta questão devido às extensões muito grandes. Foram feitas algumas modificações que permitiram ônibus articulados em mais horários - antes havia um trecho de chão batido que foi retirado das linhas. Chega a ter carro saindo de lá no pico a cada cinco, oito minutos, com superlotação de passageiros. Como a distância é grande até o centro, a quantidade de carros a serem colocados à disposição daquela comunidade é maior. Se fosse um sistema tronco-alimentado, a coisa poderia ser diferente...

      Forte abraço!

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  7. As isenções não mudam nada na tarifa: nem para menos nem pata mais. Isenções causam maior lotação e piora no serviço.
    A questão da demanda, por trechos, pode ser resolvida com um simples programa. Já existe, é barato e eficiente. Mostra ONDE CADA PASSAGEIRO EMBARCA E DESEMBARCA. Isso, por si só, dá 100% de gestão. Onde aumentar o número de horários e mais (ou menos) ônibus. Simples assim. Este programa informatizado dá a realidade do cumprimento de horários (tabelas).
    Como está hoje não adianta nem mesmo licitação. Tá péssimo. O preço, em qualquer cálculo sério dá R$ 2,10. A prestação do serviço em qualquer avaliação, de 1 a 10, nunca chegará a 3.

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    1. Unknow,
      Mais ou menos. Alterar percentuais de isenção ou taxas utilização para grupos parcialmente isentos alterar o sistema sim. O que não altera é aumento ou diminuição dos grupos que são integralmente isentos.

      Sobre o programa que mencionaste, qual é o nome dele? Como funciona? Mesmo que funcione bem, a gestão ainda não é trivial. Há muita pressão política na definição de trajeto e criação de novas linhas.

      Eu não sei se entendi o que queres dizer com "como está". as propostas sérias envolvem uma reetruturação do sistema. Se queres dizer sem mexer na distribuição de linhas concordo. Feste é um ponto nevrálgico de ataque.

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  8. Alex,

    Muito bom seu estudo e propostas concretas. Em S. Paulo a velocidade média vem caindo, principalmente nos corredores. Em 1987 a velocidade média dos ônibus era de 24 Km. Em 2011, nos corredores era 15 Km/h, em 2012 caiu para 13,4 Km.(http://www.brtbrasil.org.br/index.php/brt-na-midia/231-corredores-de-onibus-travados-em-sao-paulo#.UfQ6kI03vQO). Mas no único BRT (Expresso Tiradentes) a velocidade é 36 Km/h. (2,7 vezes, maior). Se todos os corredores fossem BRT, teríamos necessidade (pelo menos teoricamente) de metade ou menos da frota. Então, com isso poderíamos ter uma tarifa bem menor, além de uma viagem muito mais rápida e de qualidade.
    Não sei se isto ocorre em Porto Alegre e que poderia ser considerado.
    Élio J. B. Camargo

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    1. Na Contramão,
      De fato, este é um problema sério. Infelizmente, não tenho dados de Porto Alegre, mas imagino que siga a mesma trajetória. é por esta razão que a criação de corredores exclusivos torna-se uma necessidade.

      Note que nem falo de BRT, que seria ainda mais rápido. Faloa penas de um corredor que permita o ônibus trafegar em faixa exclusiva de ponta-a-ponta. hoje, embora tenham os corredores em Porto Alegre, eles não cobrem um trajeto completo, logo, a velocidade despenca e um gargalo é gerado.

      Se gostaste desta proposta, recomendo dares uma olhada no documento abaixo. Fizemos um estudo mais detalhado que evolui esta proposta e apresenta valores atualizados.
      https://docs.google.com/file/d/0BwiBOJpVdAsIeXJZWi1SN0VCVHc/edit

      Abraços!

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