A Globo e as Leis de Trânsito

O Bom dia Brasil segue de mal a pior, depois da saída do Renato Machado e entrada do Chico Pinheiro. Nem falo do ar de comentarista de boteco do jornalista, mas da linha editorial mesmo. em especial, tem-se destacado o discurso do jornal sobre trânsito.

Em 10 de maio, o jornal acusou ciclistas de tomar atitudes imprudentes. Na verdade, os ciclistas estava respeitando plenamente as leis de trânsito, seguindo pela via como deveriam fazê-lo.

Em 20 de maio, o jornal foi ao ataque dos pedestres, acusando-os de também ter uma atitude arriscada. Não que a atitude não fosse arriscada - atravessar a rua no meio de carros é arriscado. O problema é que a causa do perigo não é o comportamento dos pedestres, mas sim o comportamento dos motoristas. Não que os pedestres não devam ter cuidado, mas a matéria foi mais um exemplo de como ensinar a filha a evitar o estupro do que ao filho para não estuprar.

Ontem, dia 28 deste maio repleto de absurdos, mais uma pérola! Uma reportagem mostra os perigos de assalto em uma rodovia durante o congestionamento. Para mostrar a situação, uma moto trafega entre os carros. ei, espere, onde? Sim, entre os carros, em uma clara violação das leis de trânsito (veja o vídeo a partir de 2:30).

Afinal, motoqueiros podem dirigir onde quiserem!

Alguém precisa, urgentemente, ensinar à redação do Bom Dia Brasil as leis de trânsito no Brasil! enquanto culpam as vítimas, desrespeitam tacitamente o código brasileiro de trânsito para realizar uma reportagem. E, pior, não parecem nem mesmo perceber que o fizeram. 

Turismo para quem?

Porto Alegre possui há muitos anos o desejo de ser uma cidade turística. Entretanto, faz sempre o possível para ir na direção contrária. A EPTC passou, esta semana, a atualizar as placas de sinalização de museus da cidade. A ideia é facilitar o acesso de turistas a atrações da cidade. O problema é que, mais uma vez, as placas usadas são apenas em português!

Após o Fórum Social Mundial que, independente de visão ideológica, colocou Porto Alegre no mapa e incrementou o turismo da cidade, a Copa do Mundo promete ser o mais importante evento para atração de turistas da capital. Quem será que a prefeitura espera que venha ver os jogos? Turistas de Portugal e Angola?

É triste que, com um evento desta envergadura as nossas portas - pouco mais de um ano -, a prefeitura consiga cometer erros tão primários. Vamos ver agora se estas mesmas placas não serão trocadas à pressas semanas antes da Copa.

Deu a louca nos rodoviários!

A Carris segue de mal a pior! Depois do presidente divulgar que a Carris opera com prejuízo, mais problemas assolam a companhia estatal de transportes. Agora os rodoviários das linhas T3 e T4 decidira entrar em "greve". Não sei o que é mais grave nesta greve: o fato de estarem mais uma vez ignorando a legislação sobre greve ou os itens reivindicados.

Já falei sobre isto aqui antes: fazer greve não é deixar de ir trabalhar. Existe legislação que define os direitos e deveres dos grevistas (lei 7.783 de 1989). Nesta lei, é definido que o transporte de passageiros constitui um serviço essencial. Grevistas que trabalham em serviços essenciais devem:

1. Garantir serviços mínimos à sociedade;
2. Comunicar a decisão aos empregadores com 72 horas de antecedência;
3. Só é greve (e aqui vale para serviços não essenciais também) quando a entidade sindical convoca uma assembléia e, nesta assembléia, é decidido o início da greve. 

Nenhum destes itens foi respeitado pelos "grevistas", logo, o que eles estão fazendo é se recusar a trabalhar. Note que este fato não é ruim apenas para a empresa, mas também para os usuários do sistema, que não foram comunicados da paralisação. Isto é muito sério, pois mina a credibilidade do sistema!

Independente dos motivos da "greve", este tipo de atitude não pode ser admitido! é necessário que a prefeitura tome uma ação drástica quer seja processando o sindicato - se eles não concordam com a greve, paciência, que se entendam com seus associados! -, quer seja punindo os funcionários. Enquanto uma atitude drástica não for tomada, ações irresponsáveis como estas continuarão a ocorrer!

O segundo absurdo são as exigências do movimento: há aqui, por exemplo, o descontentamento pela demissão - por justa causa - de um cobrador. Honestamente, se houve uma demissão por justa causa, ou o funcionário realmente deveria sair dos quadros, ou ele poderá ingressar na justiça contestando os motivos da demissão. Demissões deste tipo são geralmente muito bem fundamentadas, pois a justiça trabalhista já tem um viés pró trabalhador.

O mais surreal, entretanto, é a demanda para abolir a exigência do uso de cinto de segurança! Primeiramente, isto está aquém da empresa, pois isto é uma lei nacional! Segundo, o equipamento justamente é usado para aumentar a segurança do trabalhador, logo, eles estão querendo diminuir a sua segurança! É como se os operários da Gerdau entrassem em greve exigindo que não sejam cobrados para usar EPI! Colocar um item destes na pauta ou é sinal de má fé ou de profunda ignorância!

Por uma Lajeado sem Ciclovias

Parece ridículo, mas o vereador de Lajeado Sérgio Rambo (PT) está criando um projeto de lei para transformar ciclovias em estacionamento. Espera, como assim?! Isso mesmo, se for aprovado, o projeto transformará, durante o horário comercial (7h às 18h), os 21,6 quilômetros de ciclovias da cidade em estacionamentos.

O argumento é um tanto Fortunatiano: a ciclovia não está sendo usada!
— Não quero terminar com as ciclovias, mas aproveitar esse espaço que não está sendo usado para uma grande necessidade que temos que é estacionar os carros.

De fato, se não há estacionamento dos dois lados da via o jeito é acrescentar mais! Aquele parque à direita não parece meio sem uso também? (Fonte da Imagem: Google Street View).

Se os tais 21,6 km estão corretos, é um sinal que Lajeado está bastante avançada na implantação das ciclovias. Porto Alegre, por exemplo, tem hoje 13 km, mas pretende atingir 495 km (sabe-se lá quando, mas é este o plano).

Acrescentar as faixas e fazer os motoristas respeitá-las é um dos trabalhos mais complexos em um sistema cicloviário - e, pela foto acima, parece que Lajeado ainda não chegou lá! Depois que a cultura está criada, tudo fica muito mais fácil. Permitir o estacionamento, mesmo que em horário reduzido, matará o sistema e enviará uma mensagem clara para os moradores sobre as prioridades da prefeitura.

O vereador de Porto Alegre Marcelo Sgarbossa bem que podia tomar um dia da agenda dele e fazer uma visita ao seu colega de partido. Quem sabe ele consegue fazer este sujeito entender o absurdo que está promovendo.

Update: Página do Facebook do vereador em que anuncia o projeto de lei.

Impostos nos Ônibus

Muito estranho o discurso da Prefeitura depois de  Governo Federal anunciar a isenção dos impostos PIS/COFINS das passagens urbanas. Em entrevista a rádio Guaíba, O presidente da EPTC, Vanderlei Capellari, disse que o preço da passagem poderia cair até 26%. Adoraria isto, mas não tenho a menor ideia de onde ele tirou este número estapafúrdio.

Como os leitores assíduos podem lembrar, defendi a ideia de isenção de impostos no meu artigo Uma Proposta para o Transporte Público. Posteriormente, a prefeitura anunciou que trabalharia em uma pressão política para a criação de novos impostos para subsidiar a passagem, o que foi discutido aqui. Minha proposta era começar a contar com esta isenção a partir do próximo ano, já que a prefeitura teria um trabalho árduo - supunha eu - para convencer a presidência a desonerar as passagens.

Felizmente estava errado e a União propôs esta ação por conta própria. Temos que agradecer à inflação, por incrível que pareça, por esta queda. Como o governo está preocupado com o crescimento da inflação, resolveu atuar em um item que tem crescido muito acima do núcleo de todos os índices de preço, em todas as capitais.

O valor da redução, entretanto, é modesto se tomado isoladamente. PIS e COFINS possuem alíquotas de 0,65% e 3%, respectivamente. Assim, tomando por ase o preço da passagem a R$2,85, esta desoneração acarretaria em uma queda de R$ 0,11. Em uma segunda declaração, Capellari finalmente acertou o valor, falando em uma queda de 12 centavos.

A medida do governo federal é muito bem vinda, mas temos que ir além! Agora é a vez da prefeitura retirar seus impostos e taxas da tarifa! ISSQN tem incidência de 2,5%, enquanto a taxa de administração da EPTC é de 3%. A isenção destas taxas reduziria em mais 15 centavos a tarifa (valores referentes a passagem de R$ 2,85).

Enfim, a União começou - timidamente, é verdade - a fazer a sua parte. Agora é a vez da prefeitura. Infelizmente, fazer filantropia com o chapéu dos outros é sempre mais fácil!

Questione tudo, questione sempre!

Olá!

Já faz bastante tempo que não posto por aqui. Em parte entrei em uma fase mais introspectiva, o que me fez produzir muito pouco de tudo. Peço desculpas por isso, mas funciono assim e é possível que isto volte a acontecer. Esta e uma das razões pelas quais gostaria de evoluir este blog de modo a criar uma equipe. Com várias pessoas, uns cobrem as ausências dos outros.

Um segundo motivo para a minha ausência foi uma pequena decepção: achei um erro feio na minha planilha de cálculo de passagens de ônibus. Basicamente, estava multiplicando duas vezes cada variação de número de passageiros. Assim, todos os cenários que previam aumento da demanda estavam gerando uma tarifa mais baixa que a correta.

Naturalmente, fiquei com a cara no chão. Muitas das propostas que tinha elaborado e defendido apresentavam resultados mais otimistas que o correto. A boa notícia é que já atualizei os artigos com propostas para conter os novos valores corretos e os resultados não ficaram tão ruins quanto eu imaginava.

Fiquei chateado também, pois quem descobriu este erro fui eu mesmo, ao verificar um comportamento anômalo da planilha ao simular resultados de passes. Apesar de pedir sempre por um peer review, acabei eu mesmo achando o erro.

Assim, seguido deste me pedido de desculpas, me vejo obrigado a fazer uma ode ao ceticismo. Fico feliz que tenha conseguido colocar em muitas pessoas a ideia do uso de números ao invés de propostas soltas, mas é necessário ir além. Só porque eu fiz uma tabela, não quer dizer que ela esteja certa! Dei o melhor de mim para garantir que não existissem erros, mas sou humano. E, o que vale para mim, vale para tantos outros estudos que vemos por aí. O problema é que sempre que vemos resultados que gostamos, tendemos a duvidar menos da fonte!

Espero ter achado o último erro desta planilha, mas não posso garantir isto. Não posso garantir, tão pouco, que outros estudos não tenham também erros. Contudo, posso manter o compromisso - que tem sido mantido sempre neste blog - de manter meus dados e simulações abertas, de modo que qualquer um possa analisá-los e apontar erros! é assim que a ciência funciona; é assim que uma discussão séria deve ser conduzida!

Um grande abraço!
Alex Panato